sábado, 27 de maio de 2017

Matéria publicada na Poesia Revista 2015 - O palhaço Carequinha.


Márcia Regina Schweizer



Neste ano de 2015, o Brasil está comemorando o centenário de nascimento de um dos maiores palhaços brasileiros, o palhaço Carequinha, considerado por muitos como um patrimônio da cultura brasileira. Várias gerações foram contempladas com sua alegria e irreverência, pois ele encantou crianças e adultos com suas palhaçadas por 85 anos, uma vez que começou nos palcos circenses com apenas cinco anos de idade e faleceu aos 90 anos no dia 05 de abril de 2006.
Nascido no dia 18 de julho de 1915, com o nome de George Savalla Gomes, na cidade fluminense de Rio Bonito, era filho dos trapezistas de circo Elisa Savalla e Lázaro Gomes. Quase nasceu no picadeiro, já que sua mãe entrou em trabalho de parto quando ainda estava se apresentando para o público, caminhando no arame.
Nasce, portanto, o maior palhaço brasileiro, numa tenda do Circo Peruano, de propriedade de seu avô José Rosa Savalla. Aos dois anos de idade perdeu seu pai e foi criado pelo padrasto Ozório Portilho que foi o responsável pelo aparecimento deste gênio da gargalhada, uma vez que, aos cinco anos, colocou-lhe uma careca postiça na cabeça e anunciou a chegada do “palhaço carequinha”.
Tendo jeito para fazer o público gargalhar, logo foi conquistando a criançada com bordões já imortalizados, como:
- “Hoje tem marmelada? Tem sim senhor!”.
- “E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!”.
- “Tá certo ou não tá, garotada?” E as crianças respondiam alegremente – “Táaaaaaa!”.
Carequinha foi o palhaço que teve o primeiro programa na TV, o Circo Bombril, (depois chamado Circo do Carequinha), na extinta TV Tupi do Rio de Janeiro, tendo ficado no ar de 1951 a 1964, ao lado de parceiros como o Fred, Zumbi, Meio Quilo e outros. Foi o pioneiro (no Brasil) no formato de programas infantis de auditório, que são imitados até hoje, tendo atuado também em circos internacionais. Por isso, muitos o consideram o maior palhaço do mundo.
Antes, porém, em 1938, estreou como cantor na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, no programa Picolino.
 Gravou 26 discos, fez filmes e colocou sua marca em diversos produtos infantis. Suas músicas foram presença e sucesso no carnaval carioca, como “Garota Travessa”, “Carnaval JK” e “O Bom Menino” (aquele que não faz pipi na cama e obedece sempre, sempre a mamãezinha).
Carequinha fez questão de modificar o conceito de palhaço no circo mundial, que era tido como bobo, ingênuo, imaturo e até burro. Na sua interpretação ganhou nova imagem, passando do palhaço que levava farinha na cara e só apanhava, para palhaço-herói, apreciado e amado por crianças e adultos, mudando a visão de mártir para ídolo.
Nos anos 60 começou um programa na TV Piratini de Porto Alegre  e o sucesso foi tão grande que levou seu circo para outras cidades gaúchas como Caxias do Sul, São Leopoldo, Uruguaiana e até Rivera, no Uruguai. Continuou, porém, a realizar seu programa na TV Tupi do Rio de Janeiro, sendo que aos sábados se apresentava na TV Curitiba, no Paraná. Em 1976 foi tema de um documentário sobre sua vida, do cineasta Roberto Machado Júnior, onde Carequinha foi o próprio autor do roteiro.
Apresentou-se também na extinta TV Manchete, em 1980, no programa “Circo Alegre” (cujas características, após sua saída, foram incorporadas por Xuxa em seu programa infantil).
Participou do programa da TV Globo, “Escolinha do Professor Raimundo” e da novela “As Três Marias”. Seu último trabalho na televisão foi na rede Globo, com a participação na minissérie “Hoje é Dia de Maria”, em 2005.
Carequinha, muito engraçado, dizia que gostava de morar perto do cemitério, pois poderia ir a pé, quando morresse, não dando trabalho a ninguém.
De fato, morreu em sua residência em São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, com falta de ar e dores no peito, não tendo tempo para ser hospitalizado. A seu pedido foi sepultado vestindo roupa de palhaço. Queria também ser enterrado com pintura de palhaço (para alegrar os mortos, como dizia), mas sua família não permitiu.
Sempre que alguém fala sobre o palhaço Carequinha, além dos ricos bordões que ele inventou, é lembrado pelas músicas que cantava em suas apresentações e ficaram famosas, tais como “Marcha Soldado”, “Sapo Pururu”, “Escravos de Jó”, “Samba Lelê”, “Parabéns, Parabéns”, “Marcha do Carrapato”, “A Canoa Virou” e dezenas de outras.
Gerações de pais, filhos e netos encantaram-se com a genialidade do palhaço Carequinha, que chegou a se apresentar para vários presidentes como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e para os generais do regime militar. Recebeu condecoração do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Carequinha não conseguiu que nenhum dos filhos abraçasse sua profissão, mas um dos seus netos está seguindo os passos do avô e conseguirá perpetuar o nome do maior palhaço do mundo.



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